quarta-feira, 7 de maio de 2008

Origem da Trova

ORIGEM DA TROVA



------- CLÉRIO JOSÉ BORGES

Da Academia de Letras e Artes da Serra

Do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo

Da Academia de Letras Humberto de Campos, de Vila Velha

Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras.

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A origem da Poesia Trovadoresca Medieval perde-se no tempo, contudo foi a criação literária que mais destaque alcançou entre as formas poéticas medievais, originárias de Provença, Sul da França.

Expandiu-se no século XII por grande parte da Europa e floresceu por quase duzentos anos em Portugal, França e Alemanha.

Os primeiros Trovadores Modernos a fazerem Trovas sistematicamente para publicação surgiram no século passado em Espanha e Portugal, na esteira dos folcloristas que as recolhiam em meio ao povo.

A Trova que passou a pontilhar na Literatura da Espanha e Portugal, propagou-se pelos países surgidos das conquistas dessas potências marítimas, chegando, pois à América Latina e ao Brasil.

Segundo Elmo Elton, eleito em 1980, Rei dos Trovadores Capixabas não é fácil escrever Trovas, “visto que apenas os inclinados para o exercício desse gênero poético sabem como bem realizá-las dentro das normas exigidas à sua correta feitura, já que, caso contrário, tão somente conseguem o que é comum, enfileirar quatro versos sem aquelas características essenciais que conseguem consagrar uma Trova.”

Vale aqui lembrar a Trova do Rei dos Trovadores Brasileiros, Adelmar Tavares, que era Acadêmico da Academia Brasileira de Letras:

Ó linda trova perfeita,

que nos dá tanto prazer,

tão fácil, - depois de feita,

tão difícil de fazer.

Em 1889, no dia 20 de janeiro, o jornal “A Província do Espírito Santo” publicava uma notícia de que uma senhora da Sociedade Vitoriense enviara para a redação daquele jornal, “magnífica coletânea de versos anônimos, frutos da inspiração alegre e travessa da musa popular.”

Seguem-se Trovas na primeira página daquele jornal. Em edições seguintes são transcritas mais Trovas.

O Jornal de 20 de Janeiro de 1889 traz seis Trovas.

Os raios do céu me partam

as estrelas me façam em pó;

a luz do dia me falte

se eu não amo a ti só.



Quem quer bem às escondidas

grandes tormentos padece,

passando por ser bemzinho

fazendo que não o conhece.



Ainda depois de morta,

debaixo do frio chão,

acharás teu nome escrito

no meu terno coração.



No Domingo seguinte, 27 de Janeiro de 1889, o Jornal “A Província do Espírito Santo” de número 1857, trazia na primeira página com o mesmo título: “Musa Popular - Cancioneiro Espírito - Santense”, mais de dez Trovas sem a indicação da autoria, isto é, de quem as fez. A primeira delas é a seguinte:

Você diz que eu sou sua

eu sou sua, mas não sei.

O mundo dá muitas voltas

eu não sei de quem serei.



Nova publicação só ocorre no domingo 10 de Fevereiro de 1889. O Jornal é o de número 1868 e lá estão mais 11 Trovas. A primeira delas é a seguinte:

As estrelas miudinhas

fazem o céu muito composto

nunca pude, meu benzinho

falar contigo a meu gosto.



Nos números seguintes, sempre na página literária do Domingo, localizada na capa, isto é, na primeira página do Jornal, são publicadas mais Trovas.

A tal senhora da Sociedade de Vitória, que mandara para a redação do Jornal a “magnífica coletânea de versos anônimos.” acabou não sendo identificada pelo Jornal.



O primeiro coletor de Trovas Populares em terras capixabas, com registros nos anais da história, foi o primeiro Governador Republicano, Afonso Cláudio de Freitas Rosa, que publicou no Rio de Janeiro, em 1921, o livro “Trovas e Cantares Capixabas”, no qual reuniu 21 Trovas. Eis duas delas:



Mandei fazer um barquinho,

da casca do camarão,

o barco saiu pequeno,

só coube meu coração.



Você diz que mal de amor,

não mata quem está alerta;

Pois eu ouvi de um doutor,

Que amar é ter cova aberta.



De 1923 a 1956 a Trova Literária, feita por poetas conhecidos, passa a ser bastante divulgada pela Revista “Vida Capichaba”, que publicava trabalhos de autores Espírito-Santenses, entre eles, Teixeira Leite:

Em meus amores diviso

um de mais sinceridade:

O que nasceu de um sorriso

e vive de uma saudade.



Em 1949, Guilherme Santos Neves publica o livro “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares”, onde reúne mil Trovas: “Colhidas em várias fontes aqui e ali, em Terras Capixabas, visando principalmente evitar que elas extraviem e se percam como tantas bonitas tradições do nosso povo.”

Eis três Trovas coletadas por Guilherme Santos Neves mostrando o gosto dos Capixabas em manifestar suas emoções e anseios através da Trova:

No caminho de Vitória

tem subida e tem descida,

também tem um moreninho,

perdição de minha vida.



Quem me dera estar agora

onde está meu pensamento:

Na cidade de Vitória,

na ladeira do Convento.



Minha mãe não quer que coma

muquequinha de siri.

O meu pai não quer que eu case

com rapaz de Itaquari.





(Trecho do Livro "Origem Capixaba da Trova", publicado por Clério José Borges em Outubro de 2007).

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