quarta-feira, 7 de maio de 2008

HISTÓRIA DA SERRA POR CLÉRIO JOSÉ BORGES

CLÉRIO JOSÉ BORGES
Do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo
Da Academia de Letras e Artes da Serra - ALEAS
Do Clube dos Trovadores Capixabas - CTC
Da Academia de Letras “Humberto de Campos” – Vila Velha – ES
Da Federação Brasileira de Entidades Trovistas
Da Câmara de Literatura do Conselho Estadual de Cultura
Conselheiro Titular da Câmara de Literatura do Conselho Municipal de Cultura da Serra
Cidadão Serrano, título conferido pela Câmara Municipal da Serra






HISTÓRIA

DA

SERRA
Os encantos desta terra
mostram com muita certeza,
que nesta querida Serra
há Paz, Amor e Beleza.
Clério José Borges


Os originais desta obra encontram-se arquivados na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e está obra está devidamente registrada no Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro com o N.º 87.842, no livro N.º 118, folha 039. O documento de registro da obra é datado de 04 de fevereiro de 1994. Depósito Legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto N.º 1.825, de 20 de dezembro de 1907.
Impresso no Brasil.
“Rio de Janeiro, sexta feira, 26 de Março de 1999.
Prezado Senhor: Vimos por meio desta, acusar e agradecer o envio da obra editada por Vossa Senhoria contribuindo significativamente para o acervo da Fundação Biblioteca Nacional e cumprindo a Lei do depósito Legal (Decreto N.º 1825 de 20.12.1907). (...) Sua participação é muito importante e a divulgação de sua obra dá-se através da Bibliografia Brasileira, distribuída no Brasil e no Exterior. (...) Obra: História da Serra. Cordialmente. Virgínia Freire da Costa. Chefe do depósito Legal”.

HISTÓRIA DA SERRA
1ª Edição: 23 de Maio de 1998 / 2ª Edição: 23 de Maio de 2.003.
© Copyright de Clério José Borges de Sant’ Anna - Rua dos Pombos, 2 - Eurico Salles - Carapina - Serra - ES - Brasil - CEP: 29160 -280
Tel.: (0 XX 27) 328 07 53. Todos os direitos reservados ao autor.
Proibida a reprodução sem a expressa autorização, por escrito, do autor, sujeitando-se os infratores às sanções previstas em lei.
Trechos poderão ser copiados desde que seja citada a esta obra.

FICHA CATALOGRÁFICA

981.522 Borges, Clério José, 1950 -
História da Serra - Serra - ES
Editora do CTC. - 1997. Páginas: 272 il.
1- Serra - ES - História.
2- Espírito Santo (Estado) - História.
I - Título CDU 981.522

SERRA
Poesia de Clério José Borges

Serra, Município onde a natureza,
Em formas infinitas todo dia,
Mostra encanto em inebriante beleza,
Formando terra de intensa magia.

Nesta terra a sua melhor riqueza
É seu povo trabalhador, que cria
Esperança de uma grande certeza
De que aqui só haverá Paz e Alegria.

Serra do Mestre Álvaro tão imponente,
Do seu povo amigo, nobre e valente,
Agora se expande em tecnologia.

Serra, dos Congos de São Benedito,
Do Queimado, de um povo nobre, bonito,
A quem presto homenagem em poesia.

DEDICATÓRIAS
O autor dedica esta obra às seguintes pessoas
Lyra Borges de Sant’ Anna (In Memoriam)
Zenaide Emília Thomes Borges
Clérigthom Thomes Borges
Cleberson José Thomes Borges
Katiuscia Patrocínio
Zedânove Tavares Sucupira
Eno Teodoro Wanke (In Memoriam)
Emília Birschner Thomes
Naly da Encarnação Miranda (In Memoriam)

PREFÁCIO

Em seu livro “Reminiscências da Serra, 1556 - 1983”, Naly E. Miranda refere-se, em dado momento, à possibilidade de o mesmo despertar “noutrem o interesse para pesquisar e escrever sobre a Serra”.
Clério José Borges se dispôs a fazer isso. E conseguiu. Escreveu um livro historicamente científico, depois de exaustivas pesquisas, resgatando a verdade sobre o Município da Serra, seus primeiros habitantes, a colonização, a criação de Aldeias e seu desenvolvimento etc.
"História da Serra", embora não tenha tom didático, irá servir àqueles que desejam conhecer sobre as origens do Município, podendo ser estudado (não apenas lido) até mesmo em escolas, sem perigo de se encontrarem informações inexatas. Além de ser valiosa fonte de consultas.
Clério aponta erros, desfaz enganos e dúvidas e narra a verdadeira história da Serra. De um modo simples, claro e objetivo. Assim, falando sobre o lançamento deste livro, não diremos ao leitor que “a sorte está lançada” nem como Castro Alves, que “o livro é um pássaro”, apenas o seguinte: “Leia e faça bom proveito”.

Zedânove Tavares. Da Associação Capixaba de Escritores - ACE.
Do Clube dos Trovadores Capixabas – CTC


APRESENTAÇÃO

A missão do historiador é resgatar a verdade, de forma clara, completa e objetiva. É narrar de forma científica os acontecimentos, procurando mostrar a veracidade dos fatos.
Contudo, por mais que pesquise, o historiador jamais conseguirá descobrir toda a verdade. Difícil será descobrir todas as faces, razões, condições, locais e tempo em que cada fato realmente aconteceu. Assim os historiadores estão sempre reiniciando suas pesquisas, na busca de respostas concretas para os inúmeros questionamentos que surgem a cada momento.
Nos tempos atuais, não existe espaço para a fantasia histórica. Não existe espaço para relatos sem fundamentos científicos. A Literatura Oral, embora importante no trabalho de pesquisa, recebe, na maioria das vezes, o tempero da imaginação.
O historiador necessita resgatar um passado que não teve a ventura de presenciar. Precisa buscar as verdadeiras fontes históricas. Enveredar por caminhos diversos. Pesquisar livros, ofícios, certidões, leis, cartas. Ou então analisar quadros, desenhos de época, vestuários, etc.
A presente obra procura explicar o passado do Município da Serra. Procura preencher uma lacuna existente.
Há falta de trabalhos especializados, baseados em documentos, em fontes seguras e honestas, procurando-se preencher todos os aspectos científicos de uma pesquisa.
Esta obra poderá não ser completa, mas seguramente será a verdadeira história da Serra.

Clério José Borges.


CAPÍTULO 1
ORIGEM HISTÓRICA DA SERRA
O município da Serra situado na área Metropolitana da Grande Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, na região Sudeste do Brasil, teve sua origem histórica com a fundação da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição onde, em 1556, foram alojados os índios de Maracajaguaçu, (Gato Grande), que vieram da Ilha de Paranapuã, (seio do mar), atual Ilha do Governador, no Rio de Janeiro.
A fundação da Aldeia contou com a orientação do padre jesuíta Braz Lourenço, conforme recomendação do Donatário da Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho.
PRIMEIROS NOMES
Inicialmente o nome da Aldeia dos Índios Temiminós de Maracajaguaçu era Aldeia de Nossa Senhora da Conceição.
A Aldeia foi se desenvolvendo e transformou-se no povoado de Nossa Senhora da Conceição da Serra.
Posteriormente o povoado passou a ser chamado apenas de Conceição da Serra e, finalmente, Serra.
O nome surge em razão do imponente maciço, com vários morros geminados, o Morro do Mestre Álvaro, que se assemelha a uma cadeia de Montanhas, uma Serra.
A data de 8 de dezembro de 1556 é a da primeira missa rezada por Braz Lourenço, na Aldeia de Nossa Senhora da Conceição, com os Índios Temiminós de Maracajaguaçu.
A criação do município foi em 2 de abril de 1833.
A instalação do Município ocorre em 19 de agosto de 1833.
O município de origem era Vitória.
A Vila da Serra é elevada a categoria de Cidade, pela lei N.º 6, de 6 de novembro de 1875, e a instalação solene da Cidade ocorre no dia 2 de dezembro de 1875, data do aniversário de Dom Pedro II.
INVERDADES
Alguns livros e publicações erradamente relatam o seguinte:
“Quanto ao dia e mês da chegada do padre Brás Lourenço na Serra, não se sabe com exatidão. Porém, como era costume dar nomes a lugares ou acidentes geográficos com o nome do santo do dia, supõe-se que tal data tenha se dado em 8 de dezembro de 1556, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição”.
Tal relato não é verdadeiro. Documentos comprovam que Braz Lourenço chegou ao Espírito Santo, em dezembro de 1553, na oitava do Natal para ser o Superior dos Jesuítas, substituindo Afonso Braz.
Instalou-se na Igreja de São Tiago em Vitória e de lá visitava as Aldeias e povoados da Capitania, não se fixando em nenhum lugar a não ser em Vitória, pernoitando algumas vezes na capela dos Reis Magos quando viajava para o norte e em Guarapari quando de viagem para o sul.
Os fundadores da Serra são:
Padre Jesuíta Braz Lourenço;
Índio Temiminó, Maracajaguaçu, que na Língua Tupi significa “Gato Bravo Grande”, ou “Gato Grande”.

INÍCIO DA COLONIZAÇÃO
Para compreender a colonização da Serra é importante a compreensão de como ocorreu a colonização do Espírito Santo já que existe um elo de ligação entre as duas colonizações.
Dom João III, o piedoso, cognominado o “colonizador”, era rei de Portugal, em 1534.
Para povoar a vasta extensão de terra que Pedro Álvares Cabral havia descoberto em 1500, resolveu dividir o Brasil em vários grandes lotes chamados capitanias.
A notícia da descoberta de metais preciosos na América espanhola acentuou a necessidade de Portugal apressar a colonização de seus domínios no Novo Mundo.

AS CAPITANIAS
Desta forma, Dom João III, dividiu o Brasil em 15 lotes, que constituíam 14 capitanias, doadas a 12 pessoas. A Coroa entregou à iniciativa privada a responsabilidade pela colonização. Com a morte do donatário, a administração da capitania passava a seus descendentes. O sistema já fora adotado com sucesso, no século anterior, nas possessões portuguesas na África (Cabo Verde, Madeira e Canárias).
Os direitos e deveres dos donatários estavam expressos na carta de doação e no foral.
Ao donatário cabia a propriedade de 10 léguas ao longo da costa, isenta de tributos, exceto o dízimo. Sobre o restante da capitania, porém, o donatário possuía apenas o direito de posse, de administração e do exercício da justiça em nome do rei.

ASPECTOS POSITIVOS
Sobre as Capitanias pode-se dizer que as mesmas cumpriram seu objetivo, impedindo a invasão estrangeira e iniciando o povoamento.
As Capitanias receberam a qualificação de hereditárias, pois a propriedade passava de pai para filho, como herança e foram entregues a Capitães Donatários, que eram pessoas de reconhecidos trabalhos prestados a Portugal.
Um dos Capitães Donatários, Vasco Fernandes Coutinho, era herói militar que se destacara em Guerras realizadas por Portugal na África, Índia e na China.

VIAGEM PARA O BRASIL
No dia 1º de junho de 1534, na cidade de Évora, Portugal, Dom João III assina a Carta de Doação de 50 léguas de terra na costa do Brasil, ao “fidalgo da Casa Real”, Vasco Fernandes Coutinho.
Com a Carta de Doação, Coutinho organiza sua viagem. Compra materiais e utensílios. Contrata marinheiros. Adquire uma Caravela, que recebe o nome “Grorya” (Glória) e, com ela empreende viagem para o Brasil.
Na tripulação de Coutinho “dois fidalgos de elevada nobreza”, Dom Jorge de Menezes e Dom Simão Castelo Branco, os quais foram mandados para o Brasil para cumprir penas, por delitos praticados.

EXPECTATIVA E ESPERANÇA
Dom Jorge de Menezes era Capitão e participara do descobrimento da Nova Guiné, em 1526. Seu crime foi o de matar o Capitão de uma Fortaleza na região de Molucas, de nome Gaspar Pereira.
A Caravela era composta de aproximadamente 60 pessoas.
Na comitiva também estavam Sebastião Lopes e Antônio Espera, além do espanhol Felipe Guilhen, “entendido em pedras preciosas”.
A viagem até o Brasil transcorre num clima de expectativa e esperança nas riquezas da nova terra.

ÍNDIOS HOSTÍS
Num domingo, dia 23 de maio de 1535, Vasco Coutinho chega à sua Capitania.
A tripulação desembarca numa pequena enseada junto ao morro, à esquerda da entrada da baía, que “julgavam ser um rio”.
O local recebe o nome de Espírito Santo, porque naquele dia, 23 de maio, a Igreja Católica Apostólica Romana comemorava a festa da terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo. A festa de Pentecostes.
Os índios a princípio são hostis. São realizados alguns disparos de canhão que acabam afugentando os nativos para a floresta. Em seguida são construídos os “primeiros casebres” e uma fortificação. É formada a povoação.

ESPÍRITO SANTO
Com o nome de Espírito Santo, Vila Velha é a primeira cidade fundada. A denominação de Espírito Santo se estenderia posteriormente para toda a Capitania.
Quem nasce em Vila Velha é chamado de “Canela-Verde”, cognome que surgiu em razão de algas verdes que se prendiam as canelas dos portugueses e pescadores que saiam do mar na maré baixa e de um costume que foi adotado pelos caçadores de ao adentrar no meio da mata, protegerem as pernas contra os espinhos com um amarrado de folhas espessas de cor verde, cobrindo canelas e botinas.
Instalado em Vila Velha, o Donatário e seus companheiros, “povoadores dos mais destemidos”, iniciam os planos para explorarem toda a área da Capitania.

INVESTIGAÇÕES PIONEIRAS
A primeira expedição destinada a investigar os arredores da povoação, sede da Capitania, foi organizada e iniciada menos de um mês após a chegada de Coutinho.
Padre Ponciano Stenzel dos Santos em discurso durante a Missa Campal, nos festejos comemorativos dos 400 anos de Colonização do Solo Espírito-Santense, em 1935, assim se expressou:
“Pelos começos de junho do mesmo ano de 1535, alguns povoadores dos mais destemidos, embarcados em lanchões, deram-se a investigar os arredores. Subindo pela barra, julgaram que o mar fosse um rio e, apesar de incomodados pelos índios, conseguiram desembarcar, a 13 de junho, no Campinho próximo ao lugar depois denominado de Caieiras. Como era o dia de Santo Antônio, deram à nova ilha o nome de Santo Antônio. (...) pelo fim do mês, outros exploradores, por terra, foram abrindo picadas, sertão adentro, em direção ao Mestre Álvares, (sic) chegando até aos arredores do lugar onde está hoje a cidade da Serra”.
Na transcrição do discurso do Padre Ponciano, consta Mestre Álvares. O certo é que a palavra Álvares é uma variação de Álvaro.

NA MIRA DO MESTRE ÁLVARO
O escritor Basílio Carvalho Daemon, no livro “Província do Espírito Santo - Sua Descoberta, História, Cronologia, Sinopse e Estatística”, editado pela Tipografia Espirito-Santense - Vitória - 1897, relata que em fins de 1535 e princípios do ano seguinte, saíram os povoadores em grande número, “bem armados e municiados”, entrando pelo sertão até os arredores “da hoje cidade da Serra”.
A escritora Maria Stella de Novaes, no livro “História do Espírito Santo”, relata na página 18, que Vasco Coutinho:
“Em fins de maio e princípios de junho, mandou investigar os arredores da povoação, seguindo a mira do Mestre Álvaro”.

DESBRAVAMENTO EM BUSCA DE OURO
O desbravamento do território em que está situado o atual Município da Serra inicia-se em 1535, com um grupo de primeiros exploradores que, por terra foram abrindo picadas, “sertão adentro”, em direção à Serra.
Os primeiros exploradores, comandados pelo espanhol Felipe de Guilhen, iniciam pesquisas em busca de ouro, na região do Mestre Álvaro na Serra. Guilhen era um “entendido em pedras preciosas”. Veio com Coutinho e já em Julho de 1535 está na região da Serra em busca de ouro.
São descobertas pepitas de ouro junto a cascalhos nos córregos do Mestre Álvaro.
A região fica com fama de “lugar de grande riqueza”.

TERRA FÉRTIL
Segundo o padre Jesuíta Luiz Da Grã, em carta de 24 de abril de 1555, o Espírito Santo era:
“Terra mui fértil dos mantimentos da terra e que os moradores estavam mui contentes, porque além do metal, que se na mesma Vila achou, que se cá tem prata e muito ferro, mandou o Capitão Vasco Fernandes Coutinho descobrir, pelo sertão, e acharam ouro e certas pedras, que dizem serão de preço, e que dum e doutro há muita cópia”.
Braz da Costa Rubim na obra “Memórias Históricas e Documentadas da Província do Espírito Santo”, relata que o ouro encontrado era:
“Ouro de aluvião espalhado em pequenas quantidades, (...), conseguidos nas Minas de Castelo e na região do Mestre Álvaro”.

OURO DE ALUVIÃO
Nos primórdios da colonização do Espírito Santo, o Mestre Álvaro atraiu os colonizadores que esperavam ali encontrar ouro, sendo estimulados pelo Donatário Vasco Fernandes Coutinho. Foram encontradas pequenas quantidades de ouro de aluvião e outras pedrarias.
Ouro é um metal precioso de cor amarela e brilhante com o qual se fazem moedas e jóias de alto preço.
Já o ouro de aluvião brilha intensamente, porém possui pouco valor já que é encontrado misturado à argila e areia.
Historicamente há registros de retirada de ouro do Mestre Álvaro em 1598, feitas por Dom Francisco de Souza.

FELIPE DE GUILHEN
O espanhol Felipe de Guilhen foi um dos primeiros pioneiros da região da Serra.
Guilhem não instalou nenhum povoado e nem organizou nenhuma aldeia. Felipe de Guilhem, apenas montou uma base para as explorações no Mestre Álvaro, base esta que se desfez quando se descobriu que as potencialidades eram sem expressão, ou seja, havia pouco ouro fácil de ser encontrado na região.
Os primeiros exploradores se reuniam em arraiais, aglomerados de choças de barro erguidas nas encostas das montanhas por onde descia o ouro aluvião, acompanhado de uma capelinha onde agradeciam pelo achado de uma pepita maior. A maioria desses arraiais era abandonada tão logo o metal escasseava na região.
Após suas pesquisas na região do Mestre Álvaro, Felipe de Guilhen segue para outras terras em busca de ouro. Os livros registram que Felipe de Guilhen esteve à procura de ouro no Sul da Bahia e nas Minas Gerais.

HOMENS E MATERIAIS
Segundo o escritor José Teixeira de Oliveira, no livro “História do Estado do Espírito Santo”, página 49, publicado em Vitória, em 1975:
“O futuro, a riqueza, a glória, escondidos no seio da floresta, pousados na Serra de Mestre Álvaro e além, chamavam-no, seduziam-no com o encantamento do desconhecido”.
Mas Vasco Coutinho para tal empreendimento precisava de mais gente e materiais.
Em 1540, Vasco Coutinho segue viagem de volta a Portugal em busca de mais homens e materiais para o desenvolvimento de sua Capitania.

ATAQUES INDÍGENAS
Anos mais tarde, em 1548, ao voltar com os recursos, encontra a Capitania arrasada devido aos constantes ataques indígenas que culminaram com as mortes de Dom Simão Castelo Branco e Dom Jorge de Menezes, que o haviam substituído no comando da Capitania.
Relatos históricos dão conta que os índios atacavam em grande quantidade, aniquilando todos que se colocavam à sua frente. A raiva era tanto que Tupiniquins misturaram-se aos Aimorés e alguns Botocudos, seus rivais de regiões do interior, para a destruição das poucas vilas existentes.

RUBÉRIO, TRAIDOR OU HERÓI?
O Artista Plástico Kleber Galvêas, com base em artigo do ex-prefeito de Vitória, Adelpho Poli Monjardim informa que os índios que mataram Dom Simão Castelo Branco e Dom Jorge de Menezes foram ajudados pelo Português Rubério Martins que teria traído seus patrícios ajudando os índios que não aceitavam a imposição dos colonizadores em torná-los escravos.
Segundo o historiador Francisco de Brito Freyre, os colonizadores em 1546 passam à caça dos silvícolas para serem utilizados nos trabalhos da lavoura. Com isto, Aimorés e Tupiniquins, entre outros, no desespero da perseguição, “aliaram-se para aniquilar o estrangeiro”, que os explorava. Em imensas turbas destruíram as povoações, matando várias pessoas.

TUPINIQUINS E TEMIMINÓS
Não se pode escrever sobre a Serra sem se falar da própria história dos índios e dos primeiros colonizadores do Espírito Santo. Existe um elo de ligação nesta grande corrente histórica de heroísmos, bravuras e idealismo.
Estima-se entre um milhão e cinco milhões o número de índios que viviam no Brasil em 1.500, à época do descobrimento do Brasil. Esse número foi obtido tomando-se por base o ocorrido no antigo México e Peru, onde o decréscimo da população nativa foi de vinte a um, ou seja, de cada 20 indivíduos restou apenas um. Considerando-se que a população indígena do Brasil, em1980, era de 227.800 pessoas e multiplicando-se esse número por 20, chega-se a 4.556.000 índios em 1500.
Em 1557 uma bula do Papa III declara homens os Índios, antes considerados simplesmente na categoria de não-humanos e sujeitos a todo tipo de exploração.

CLASSIFICAÇÃO INDÍGENA
Na época que os portugueses chegaram ao Brasil a população indígena era superior a toda população de Portugal.
Considerando o critério língua, os indígenas podem ser classificados em quatro grandes grupos:
Tupi-guarani – Ocupava o Litoral
Jê ou tapuia – Ocupava o Brasil Central
Nuaruaque – Ocupava regiões da Amazônia e Mato Grosso.
Caraíbas – Ocupava o norte da região amazônica.
Desde os tempos mais remotos, muito antes mesmo da chegada dos portugueses ao Brasil, a área ocupada pelo Município da Serra era habitada pelos Índios.

SETE MIL ÍNDIOS
Pesquisas mais recentes informam que há sete mil anos os índios já habitavam o Espírito Santo, conforme objetos encontrados em diversos locais, os chamados sítios arqueológicos, na divisa dos municípios de Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina.
Na época da colonização do Espírito Santo os indígenas que existiam eram:
1- Goitacases, no sul. (língua Tupi)
2- Tupiniquins, no litoral norte. (língua Tupi)
3- Aimorés, localizados no centro e no interior da Capitania e que falavam a língua Jê ou Magrogê. Neste grupo destacavam-se também os Uatus, Puris e Botocudos, na região onde estão as cidades de Colatina, Baixo Guandu e Aimorés.

PRIMEIROS HABITANTES FALAVAM O TUPI
Os índios que habitavam o litoral falavam o Tupi-guarani.
Os índios de língua Tupi denominavam os demais índio de Tapuias, que significa “aquele que não fala a nossa língua”.
Portanto eram Tapuias todos os que não falavam a língua Tupi.
No Espírito Santo, no século XVIII, os Tapuias eram chamados de “Botocudos”, palavra que passa a denominar todos os índios que não aceitavam a colonização portuguesa.
Numa publicação do IBGE, datada de 1934 consta erradamente que a região, onde hoje está a cidade da Serra era “povoada pelos índios Goitacases”.
Sobre o assunto, o historiador Basílio Carvalho Daemon diz o seguinte: “Embora alguns digam índios Goitacases, tenho dúvidas, uma vez que os índios Goitacases estavam no sul da Capitania, sempre em guerra”.
Os Tupiniquins foram os primeiros habitantes da região da Serra. Os Aimorés, Botocudos e os Goitacases não estavam aldeados na região.
Os Aldeamentos dos Tupiniquins estavam localizados no litoral.

TUPINIQUINS E TEMIMINÓS: ÍNDIOS DA SERRA
No capítulo “A presença do índio na História do Município da Serra”, de uma publicação sobre a Serra, o saudoso Acadêmico Wilton Simas da Rocha, relata:
“Desde os tempos mais remotos, muito antes mesmo da chegada dos portugueses ao Brasil, a área ocupada pelo atual Município da Serra era habitada pelos índios. No litoral viviam os Temiminós, índios do Grupo Tupi, e no interior os Puris, do Grupo dos Botocudos. Os índios foram, portanto, os primeiros habitantes do Município”.
Os índios Puris realmente viviam no interior da Capitania, na região de Conceição do Castelo e não no interior do Município da Serra, onde estavam apenas os Tupiniquins.
A escritora Neida Lúcia Moraes, informa que os índios que habitavam o Espírito Santo “na época do seu povoamento” eram os de língua Tupi: Goitacases, Temiminós, Tupiniquins e outros. Antes de 1554 não existiam índios Temiminós no Espírito Santo.

EXPLORAÇÃO DO ÍNDIO
No início, o trabalho do índio era conseguido de forma amigável, por meio do “escambo”, ou seja, pelo trabalho realizado, o europeu português dava pedaços de tecidos, espelhos e outras bugigangas.
Quando o índio recusava realizar o trabalho, o europeu passava a usar a violência e impor um regime de escravidão.
O trabalho da lavoura era responsabilidade das mulheres indígenas. Quando eram chamados a trabalhar, os índios tornavam-se indolentes, bastante preguiçosos e se revoltavam, promovendo guerras contra o opressor, que além de invadir suas terras tentava impor a condição de escravo.
Segundo o padre Afonso Braz, os índios do Espírito Santo eram de costumes difíceis:
“Inaptos a receber o batismo, pois voltam com facilidade a seus antigos costumes, indo-se para o meio dos seus”.

COSTUMES INDÍGENAS
Nos primeiros contatos, os europeus imaginavam que todos os Índios fossem iguais e falassem a mesma língua. Aos poucos perceberam a existência de grande variedade de nações e línguas.
Indígena passou a ser um nome para denominar um grande conjunto de povos diferentes entre si.
Os índios andavam nus e não tinham vergonha do corpo. Os europeus achavam a nudez em público, imoral e pecaminosa.
Os índios não tinham riquezas pessoais. Os bens eram de uso comum entre todos da tribo.
As mulheres cuidavam das crianças, preparavam a comida, faziam potes e cestos e cuidavam da lavoura. Os homens dedicavam-se à guerra, caça, pesca, construíam canoas e cabanas e limpavam a mata para a lavoura.

PADRES JESUÍTAS
Jesuíta é o membro da Ordem Religiosa chamada Sociedade de Jesus ou Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loiola (1491-1556). Portanto Inácio de Loiola, hoje Santo Inácio, foi o fundador dos Jesuítas.
Os Jesuítas chegaram ao Brasil junto com as primeiras expedições colonizadoras.
Os padres Jesuítas consideravam-se os “soldados da religião”. Procuravam divulgar os ensinamentos da Igreja Católica no Brasil. Tinham por missão catequizar os índios e colonos convertendo-os ao catolicismo e para tanto ensinavam a Doutrina Cristã.
O trabalho de catequese exigia a entrada dos padres pelo interior, pois os índios afastavam-se do litoral fugindo à invasão de suas terras.
Nas viagens pelo interior, os padres foram fundando aldeamentos onde os índios estudavam a Doutrina Católica e os costumes da cultura européia, aprendendo a falar o português, desempenhar serviços domésticos e trabalhar na agricultura de livre e espontânea vontade.

PRIMEIRAS ALDEIAS E BRAZ LOURENÇO
Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, de dezembro de 1935, edição N. º 10, página 36, consta o seguinte texto de padre Ponciano dos Santos, baseado no historiador Basílio Carvalho Daemon, em obra de 1897:
“Estabelecidas as primeiras Aldeias, (em 1554) fundou ainda, (em 1556) o padre Braz Lourenço outra, na cidade de Conceição da Serra”.
As primeiras Aldeias do Espírito Santo foram fundadas pelo padre Afonso Braz, o qual antecedeu Braz Lourenço, que chegou ao Espírito Santo em Dezembro de 1553.

PRIMÓRDIOS DA FUNDAÇÃO
Luiz Da Grã em carta do Espírito Santo, datada de 24 de abril de 1555, relata os primórdios da fundação da cidade da Serra:
“Fica agora o padre Braz Lourenço com uma nova ocupação, de que temos confiança em o Senhor que se diga mais certo fruto do que sinto em nenhuma outra parte, que eu tenha visto, do Brasil, porque depois que eu tomei a arribar a esta Capitania, chegou aqui um Principal, que chamam Maracajaguaçu, que quer dizer Gato Grande. (...) Fazia eu de conta, se estivesse aqui, de ir morar entre eles, mas o padre Braz Lourenço se ocupará com eles, e espero no Senhor Deus que se farão Cristãos e que daí ajuntaremos alguns mínimos e que serão mais fieis do que eles acostumam ser”.
Segundo a publicação do IBGE já citada:
“Em 1556, penetrando na região ao Norte da Vila de Vitória, o referido Jesuíta (Braz Lourenço) fundou a Aldeia de Conceição nas vizinhanças do Monte denominado Mestre Álvaro. Ali erigiu uma Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição da Serra”.

TEMIMINÓS SAIRAM DO RIO EM 1554
No livro “Anchieta, o Apóstolo do Brasil”, o padre Hélio Abranches Viotti, no Capítulo sobre “Anchieta na Capitania do Espírito Santo”, página 214, ao se referir à Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Serra informa:
“A de Conceição se havia originado com o estabelecimento no Espírito Santo dos Temiminós, do Rio, fugindo em 1554 à perseguição implacável dos Tamoios. Uma parte deles regressara, com Araribóia, ao Rio de Janeiro, aí prestando para o Domínio Lusitano inestimáveis serviços”.
O historiador José Teixeira de Oliveira informa em sua obra “História do Estado do Espírito Santo”, 2ª edição ampliada e atualizada, Vitória, 1975:
“No primeiro quartel de 1554, Vasco Coutinho regressou à Capitania. Um dos seus primeiros atos deve ter sido organizar a expedição de quatro navios mandados à Guanabara salvar Maracajaguaçu e sua gente das unhas dos Tamoios. O padre Luiz Da Grã herdou à História um relato completo sobre o assunto. (...) De início, foram localizados em um sítio nas proximidades da Vila da Vitória”. (Página 82)
Primeiro quartel significa nos quatro primeiros meses de 1554.
Tal Sítio (local) seria entre os Morros do atual Forte São João e de Jucutuquara e “na região do atual bairro de Goiabeiras”.

NAS PROXIMIDADES DE VITÓRIA
No texto original da obra de José Teixeira de Oliveira, a palavra Maracaiaguaçu está escrita na forma antiga, onde o autor em questão substituiu o “Y”, pelo “I”.
A grafia correta e atualizada da palavra é Maracajaguaçu.
Os Temiminós ao chegarem ao Espírito Santo, em princípio ficaram num sítio nas proximidades de Vitória indo em seguida para a região da atual Santa Cruz e depois retornaram em 1556 para as proximidades do Mestre Álvaro e do rio Santa Maria da Vitória.
Em Nota no rodapé da página consta:
“Diz Serafim Leite que esta carta de Luiz Da Grã dá a primeira origem da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição”.
(História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo I, página: 234)

LOCALIZAÇÃO
Na página 171 do livro “A Outra História da Companhia de Jesus”, o escritor Jayme Santos Neves informa que Gato Grande e sua gente foram localizados na Aldeia de Nossa Senhora da Conceição da Serra.
Braz Lourenço, segundo o escritor Heribaldo Lopes Balestreiro era um “esforçado catequista”, pois:
“Muitos foram os índios por ele integrados à vida religiosa e econômica da Capitania, como trabalhadores e mesmo como funcionários na execução de serviços burocráticos”.
Segundo o mesmo escritor Heribaldo, o trabalho de Braz Lourenço foi :
“Sempre devotado ao progresso do Colégio e das Missões Apostólicas que havia criado e que se encontravam em pleno funcionamento”.
Comprova-se, assim que Braz Lourenço não cuidava unicamente das Missões Apostólicas, (Aldeias) que havia criado, mas também era “devotado” na construção do Colégio dos Jesuítas que ficava em Vitória.
Publicações afirmam que Braz Lourenço ao fundar a Aldeia de Nossa Senhora da Conceição da Serra teria fixado residência na referida Aldeia. Outras publicações relatam que “não se sabe a data certa em que Braz Lourenço teria chegado a Serra”.
Tais afirmações não são verdadeiras e nem fundamentadas em relatos históricos.
Braz Lourenço residia em Vitória na sede dos Jesuítas, Igreja de São Tiago, onde hoje é o atual Palácio Anchieta e visitava sempre várias Aldeias da Capitania. Para chegar na Aldeia do Gato bastava embarcar num lancha ou embarcação da época a Almadia. A Aldeia ficava próximo ao Mestre Álvaro e ao rio Santa Maria da Vitória. Seu trabalho era evangelizar e rezar Missas. As Aldeias de Conceição da Serra e Espírito Santo (Vila Velha) eram as mais próximas de Vitória.

BRAZ LOURENÇO E MARACAJAGUAÇU
Braz Lourenço, padre da Companhia de Jesus e Maracajaguaçu, o Gato Grande, chefe dos Índios Temiminós, são os fundadores da Serra.
Braz Lourenço nasceu em Mello, na cidade de Coimbra, Portugal, em 1525.
Maracajaguaçu nasceu em 1501, na Ilha de Paranapuã (Atual Ilha do Governador), no Rio de Janeiro.
Maracajaguaçu é uma palavra na língua Tupi que significa, Maracajá: Gato Bravo e Guaçu: Grande. Popularmente o fundador da Serra deve ser chamado de Gato Grande.
Maracajaguaçu era pai de Araribóia, que nasceu no Rio de Janeiro e veio com o seu pai na migração dos Temiminós. Araribóia no Espírito Santo fundou a Aldeia São João, em Carapina. Depois seguiu para o Rio de Janeiro para lutar contra os Franceses e os Tamoios onde fundaria a 22 de Novembro de 1573, a Aldeia que deu origem à cidade de Niterói.
Araribóia significa, Cobra feroz das Tempestades.

DOM JOÃO III CENTRALIZA A ADMINISTRAÇÃO
O isolamento das Capitanias em relação a Portugal foi apontado como um dos principais problemas. Portugal implantou então o Governo Geral para coordenar a ação dos Donatários.
Diante dos maus resultados das capitanias hereditárias, o Rei Dom João III, em 1548, resolveu centralizar a administração do Brasil, criando o cargo de Governador-geral, com autoridade superior à dos donatários.
A Capitania da Bahia, por estar exatamente no centro do litoral brasileiro, foi comprada pelo rei, aos descendentes do donatário Francisco Pereira Coutinho, tornando-se a sede do governo geral.
Dom João III criou também três importantes cargos, visando auxiliar o governador no cumprimento de suas funções:
Ouvidor-mor, a quem cabia a administração da justiça.
Provedor-mor, a quem ficava entregue a missão de conduzir as finanças (cobrar impostos e distribuir recursos).
Capitão-mor, encarregado da defesa e segurança.
Os primeiros governadores foram: Tomé de Souza, Duarte da Costa e Mem de Sá.

TOMÉ DE SOUZA (LISBOA, 1502 — LISBOA, 1579)
Em 1548 foi criado o Governo Geral do Brasil e em 1549 chegava o Primeiro Governador Geral que administrou o território Brasileiro até 1553. Junto chegou ao Brasil, chefiando mais cinco padres Jesuítas, o padre Manoel da Nóbrega.
O 1º Governador Geral foi Tomé de Souza que chegou a Bahia em 1549, com seis navios e aproximadamente mil pessoas, entre os quais seis Jesuítas chefiados pelo Padre Manoel da Nóbrega.
Em 1552, Tomé de Souza visitou a Capitania do Espírito Santo e depois continuou viagem até São Vicente, passando pelo Rio de Janeiro.
Numa visita a baía de Guanabara, Tomé de Souza conhece a Tribo dos Temiminós de Maracajaguaçu, que vivia numa ilha no meio da baía, a ilha de Paranapuã.
O historiador Serafim Leite relata:
“Deve ter sido nesta ocasião da passagem da Armada e desta primeira catequese, com a presença de Nóbrega, que o Principal Maracajaguaçu (Gato Grande) disse a muitas pessoas e a Tomé de Souza que queria ser Cristão”. (Serafim Leite, em sua obra “Cartas dos Primeiros Jesuítas do Brasil”, publicada no IV Centenário da Cidade de São Paulo, ao comentar uma carta do padre Manoel de Nóbrega, escrita em São Vicente a 10 de março de 1553, página 429)
Esta é a origem do interesse de Maracajaguaçu em se mudar para o Espírito Santo. Com a ajuda de Vasco Coutinho e orientação de Braz Lourenço, Maracajaguaçu e sua gente tornaram-se Cristãos.
Tornou-se amigo dos índios educando-os e protegendo-os, tendo conhecido e se casado com a Índia Catarina Paraguaçu, primeira figura feminina brasileira a entrar para a história do Brasil. Em 1553, parte do Brasil e, em Portugal, passa os últimos anos de vida descansando em uma propriedade (Quinta).

DUARTE DA COSTA
O Segundo Governador Geral foi Duarte da Costa, que governou de 1553 a 1557.
Em seu Governo houve a invasão dos Franceses no Rio de Janeiro em 1555, como também a morte do 1º Bispo da Bahia, Dom Pero Fernandes Sardinha, devorado pelos Índios Caetés.
Com Duarte da Costa está o seu filho Álvaro da Costa, importante defensor dos Colonos Portugueses, amigo de Braz Lourenço, fundador da Serra. Álvaro era conhecido como Mestre Álvaro.
No Governo de Duarte da Costa os Índios organizam a Confederação dos Tamoios, que se une aos Franceses contra os Portugueses.
Também no Governo Duarte da Costa, Padre José de Anchieta funda o Colégio de São Paulo de Piratininga, no dia 25 de Janeiro de 1554. O Colégio é que deu origem à cidade de São Paulo.

MEM DE SÁ
O Terceiro Governador Geral foi Mem de Sá, que Governou o Brasil durante 15 anos, de 1557 a 1572, conseguindo pacificar os Índios, acabar com a Confederação dos Tamoios e expulsar os Franceses do Rio de Janeiro.
Estácio de Sá, que era sobrinho de Mem de Sá, construiu no dia 1º de março de 1565, o Forte de São Sebastião. Em torno do forte surgiria a povoação, que daria origem a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, atual cidade do Rio de Janeiro.
O dia de São Sebastião é a 20 de Janeiro, contudo a data de fundação do Rio de Janeiro é 1º de março.

PARANAPUÃ: ILHA DO GATO
Maracajaguaçu era o Chefe da Nação Indígena dos Temiminós.
Era um Índio Temiminó, do Grupo Tupi.
Vivia com a sua tribo na Ilha de Paranapuã, palavra indígena que significa "seio do mar" a "ilha do mar".
A ilha era denominada pelos portugueses de Ilha dos Maracajás ou Ilha do Gato.
A baía de Guanabara no Rio de Janeiro, possui 65 ilhas e várias ilhotas e pedras. Dentre todas as ilhas, a maior é a Ilha do Governador (Paranapuã), com 32 quilômetros quadrados. Em Janeiro de 2.000, a população da citada Ilha era de 210 mil habitantes.
A Ilha de Paranapuã era habitada pelos Temiminós, e os Tamoios a denominavam Ilha dos Maracajás ou dos Gatos, porque assim eram chamados os seus primeiros habitantes, cujo Chefe era Maracajaguaçu, que significa Gato Bravo Grande.
Os Maracajás uniram-se aos portugueses, e os Tamoios, mais numerosos, aos franceses, quando estes, em suas incursões pelo Rio de Janeiro e imediações, procuraram fixar-se em terras brasileiras.
Já os franceses chamavam a Ilha de, “Ile des Margaiatz” e de “La Grand Ile”, ou “La Belle Ile”.

ATUAL ILHA DO GOVERNADOR
Cartas Náuticas comprovam que a Aldeia de Maracajaguaçu ficava na hoje Ilha do Governador, dentro da baía de Guanabara.
A posição da Ilha dos Gatos, no meio da Baía de Guanabara era de tão grande importância que os Tamoios não davam trégua. Constantemente promoviam incursões até a ilha atacando os Temiminós, com o objetivo de expulsá-los da região.
Da ilha se tinha uma ampla visão de toda a baía, podendo se avistar a aproximação de navios inimigos. Estrategicamente a ilha era de grande importância nas Guerras e defesa aos ataques de Navios inimigos.
Apoiado pelos franceses, que em novembro de 1555, fundariam no Rio de Janeiro um povoamento chamado de França Antártica, os Tamoios se fortalecem e em 1554, passam a atacar os Temiminós vencendo-os em algumas batalhas, enfraquecendo a grande Nação de Gato Grande, a qual sai em busca de asilo para mudança de local.

HOMENAGENS AOS TEMIMINÓS
As derrotas, contudo, não desmerecem os Temiminós que são sempre lembrados, com orgulho e honra, na Ilha em que nasceram.
Na publicação, “Guia da Ilha do Governador”, 2ª Edição/1950, existe uma foto na página 9, onde há uma pedra e em cima a figura de um Gato. Na legenda da foto o seguinte texto:
“Pedra dos Amores, no fim da Praia Guanabara (Freguesia) com a reprodução de Maracajá (misto de tigre e gato), símbolo dos Maracajás, primitivos habitantes da Ilha”.
No programa de Comemorações e Festejos do IV Centenário da Ilha do Governador, em 1965, consta no dia 20 de Fevereiro:
“Inauguração do novo Monumento Maracajá, na Pedra da Onça. (...)”.
O nome “Ilha do Governador” é também uma homenagem.
No dia 5 de setembro de 1567, a Ilha do Gato é doada por Mem de Sá, em Sesmaria, a Salvador Correia de Sá, seu sobrinho. Meses depois, Salvador Correia de Sá é nomeado segundo Governador da Capitania do Rio de Janeiro, sendo a ilha de sua propriedade chamada então de Ilha do Governador.

NAÇÃO DOS TEMIMINÓS
Conforme documentos históricos coletados pelo historiador Escritor Áureo Ramos, residente na Ilha do Governador, os aldeamentos indígenas pertencentes aos Temiminós, na Ilha de Paranapuã, eram:
Aldeamento do Morro das Pixunas, próximo a Praia Grande;
Sambaqui das Pixunas;
Aldeamento da Praia da Tapera, atual Praia da Bandeira;
Sambaqui do Jequiá;
Aldeamento do Morro da Viúva, atual Morro do Zumbi;
Aldeamento do Morro do Matoso;
Aldeamento São Tomé, etc.
Historiadores informam que eram mais de 2.000 índios entre adultos e crianças.
Antigas Aldeias possuíam também os “sambaquis”, que são depósitos de conchas com restos de cozinha e esqueletos (o lixo atual).

ÍNDIOS PROCURAM, NOVO LOCAL PARA MORAR
Os Temiminós eram amigos dos portugueses.
Os índios chamavam os portugueses de “perô”.
Os Tamoios, mais numerosos, eram inimigos dos portugueses.
A sorte de Maracajaguaçu começou a mudar, e ele passou a perder algumas batalhas, para os seus inimigos, os Tamoios que moravam no litoral.
Maracajaguaçu resolve mudar de região.
Precisava de um lugar novo e mais distante de seus inimigos.
Para o sul não poderiam ir, já que os Índios da Capitania de São Vicente também eram inimigos dos Temiminós. Restava, pois o norte, onde ficava a Capitania do Espírito Santo.
A visita que Tomé de Souza fizera, anos antes, a Ilha de Paranapuã tinha consolidado uma amizade entre os Portugueses e Temiminós, credenciando Maracajaguaçu a pedir ajuda, agora que se via em desvantagem e constantemente agredido pelos Tamoios.

DONATÁRIO COUTINHO OFERECE ASILO
Entendeu Maracajaguaçu de enviar um emissário, à Capitania do Espírito Santo para pedir socorro, pois os Temiminós:
“Necessitavam mudar-se e se tornarem Cristãos”.
O emissário de Maracajaguaçu inicialmente não encontrou Vasco Coutinho, que estava em viagem. Esperou alguns dias sem sucesso. Já retornava desolado ao Rio de Janeiro, quando soube que o Donatário havia chegado.
Voltou à sede da Capitania e foi recebido por Vasco Fernandes Coutinho, o qual, aconselhado pelos Jesuítas, Luiz Da Grã e Braz Lourenço, mandou quatro embarcações ao Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro os Temiminós de Maracajaguaçu foram recolhidos em “um dia e meio” embarcando com pressa, dada a “extrema necessidade”.

CARTA DE LUIZ DA GRÃ
A escritora Maria Stella de Novaes relata equivocadamente o seguinte: “há divergências entre os cronistas (escritores), se houve, de fato, convite a essa tribo, ou pedido de asilo, pelo Chefe Gato Grande, em vista da penúria em que a mesma se encontrava, no Rio de Janeiro, perseguida pelos franceses”.
O pedido de asilo está bem claro e relatado em documentos históricos.
O padre Luiz Da Grã, que escreveu uma longa carta onde conta a vinda de Maracajaguaçu para o Espírito Santo, destaca de forma bem clara que realmente houve o “pedido de asilo” e o “estado de necessidade”.
Consta da carta: “Afirmavam a extrema necessidade e lhes parecia que daí a mui poucos dias seriam comidas dos contrários”.
Os contrários eram os Tamoios, que praticavam o canibalismo. Isto é, comiam os seus inimigos.
CANIBALISMO ANTES DA FÉ CRISTÃ
O ódio entre Temiminós e Tamoios era tão selvagem e intenso que ambos, antes de se converterem a fé Cristã, se alimentavam de carne humana, usando prisioneiros.
No livro de Cybelle M. Ipanema, “História da Ilha do Governador”, na página 52, há relatos de churrascos humanos feitos de inimigos tanto pelos Temiminós como pelos Tamoios:
“Também eu, valente que sou, já amarrei e matei vossos maiores. (...) Comi teu pai, matei e mosqueei a teus irmãos (...) e ficai certos de que, para vingar a minha morte, os Maracajás da Nação a que pertenço, hão de comer ainda tantos de vós quantos possam agarrar”.
Comprova-se que havia ferocidade nos combates entre Temiminós e Tamoios e que os Temiminós eram canibais, costume que só terminou quando vieram para o Espírito Santo e se tornaram Cristãos.
Embora os Temiminós em Guerra tivessem sofrido inúmeras baixas, a Nação Temiminó era grande e todos sobreviventes vieram para o Espírito Santo.

ÍNDIOS EMBARCAM EM QUATRO NAVIOS
Os quatro navios enviados pelo Donatário do Espírito Santo permaneceram um dia e meio na Ilha do Governador, para que fosse feita a mudança dos índios.
O período de um dia e meio mostra que a quantidade de índios não era pequena e que os mesmos embarcaram, além de pertences pessoais, os históricos (materiais) da Tribo.
Os quatro navios estavam equipados com artilharia, para repelir em caso de agressão, ataques dos Tamoios e dos franceses, que eram constantes no Rio de Janeiro.
Os franceses empenhados em invadirem as terras do domínio português, faziam constantes viagens ao Rio de Janeiro, onde com o apoio dos Tamoios iam formando um povoamento que em novembro de 1555, seria a base de fundação da França Antártica.

TEMIMINÓS SÃO BEM RECEBIDOS NO ESPÍRITO SANTO
A fuga dos índios para o interior do território, fugindo das proximidades do Europeu e a falta de habilidade na agricultura, deixaram os colonos com dificuldades, já que os Índios não aceitavam a escravidão e inclusive eram apoiados pelos Jesuítas que os defendiam.
Diante das dificuldades com os Índios locais, a vinda de Maracajaguaçu e dos seus parentes, “desejosos de se converterem na fé Cristã”, foi altamente festejada na Capitania.
No Espírito Santo, a Nação dos Temiminós mostrou-se sempre disposta e interessada em ajudar na defesa da Capitania, fator de grande importância para os portugueses, constantemente atormentados pelos Tupiniquins, pelos ferozes Botocudos, pelos temidos índios Tamoios, além de inimigos estrangeiros e piratas que sempre atacavam a Capitania.
Luiz Da Grã na Carta diz que os Temiminós foram:
“Força de apoio para os colonos e de aproximação com os temidos Tupiniquins”.

TEMIMINÓS AJUDAM NA DEFESA DA CAPITANIA
O escritor José Teixeira de Oliveira, destaca também a importância da vinda de Maracajaguaçu para o Espírito Santo e que os Temiminós sempre ajudaram na defesa da Capitania. Relata que, em 1558 os franceses ancoraram na região de Itapemirim, sul da Capitania, para roubar grande quantidade de Pau Brasil. Por determinação de Coutinho, Maracajaguaçu foi até o local e com os seus índios, expulsaram os franceses e ainda aprisionaram vinte inimigos.
A escritora Maria Stella de Novaes no seu Livro “História do Espírito Santo” critica a vinda dos Temiminós e, em determinado trecho diz que “os Temiminós viviam errantes, no norte de Niterói”.
Tal fato não é verdadeiro. Os Temiminós nunca viveram errantes no norte de Niterói, simplesmente pelo fato de que Niterói ainda não existia em 1554.
Niterói foi fundada por Araribóia, filho de Maracajaguaçu.
Araribóia tomou posse da Sesmaria que daria origem a Niterói a 22 de Novembro de 1573.

ÍNDIOS HERÓIS ANÔNIMOS
Maracajaguaçu, o Gato Bravo Grande, e seus bravos Temiminós foram importantes para a defesa e colonização da Capitania do Espírito Santo, sendo “bastante expressiva a colaboração do Gato Grande e sua gente na luta de colonização da terra”.
Para a corte portuguesa, não interessava a história dos heróis anônimos, os verdadeiros desbravadores, construtores dos novos aldeamentos e responsáveis pela penetração mata adentro da colonização portuguesa. Muito menos interessava a luta dos indígenas, dos Jesuítas e dos primeiros colonizadores. O que não fosse épico, evento grandioso, não merecia consideração.
No anonimato, está o amor, o trabalho através das lendas, da história. É ainda no anonimato que está o verdadeiro herói que constrói o todo a partir de si mesmo.
Palco do surgimento de autênticos heróis anônimos, a Serra tornou-se uma região de evidência no contexto da conquista da terra, na época de sua colonização.
São heróis anônimos da colonização da Serra, que honram e dignificam a história de qualquer cidade ou país, os índios Temiminós, os Tupiniquins, os padres Jesuítas, os primeiros colonos portugueses e depois os negros escravos. Pessoas anônimas que ajudaram na formação e construção das bases da futura cidade da Serra.

PROTEÇÃO DOS JESUÍTAS
No Espírito Santo, os portugueses, acolhem a Tribo de Maracajaguaçu, deixando-a sob a proteção dos Jesuítas e segundo Luiz Da Grã, Maracajaguaçu construiu a sua Aldeia inicialmente apegada a Vila de Vitória, acrescentando o seguinte:
“Fazia eu conta, se estivesse aqui, de ir morar entre eles, mas o padre Braz Lourenço se ocupará com eles “.
Os Temiminós inicialmente foram instalados, “apegados”, isto é, junto da Ilha de Vitória. A região segundo alguns historiadores seria na Ilha de Vitória, onde os Índios iniciaram a plantação de uma roça de milho que deu origem ao nome Capixaba, que na língua dos Índios significa “roça ou plantador de milho”.

MARACAJÁ: GATO GRANDE OU ONÇA?
Em Vitória, no Morro da Capixaba, no alto da pedra que forma uma gruta, curiosamente existe uma estátua de uma onça, sendo o local denominado, Parque Municipal “Gruta da Onça”.
A Onça seria em razão de uma lenda:
“No meio da floresta existia uma gruta onde brotava uma fonte com água límpida. Num certo dia, um índio, que se abrigou no local, foi beber a água da fonte. Foi quando viu, no reflexo da poça d’água, a imagem de uma enorme onça pronta para o ataque fatal. O índio saiu em disparada para o mar, em direção ao Morro do Penedo. Desde então a onça passou a ser a guardiã da gruta”.
Contudo há quem acredite que a estátua da Onça seja uma homenagem aos primitivos moradores do local, os Temiminós.
No Rio de Janeiro no IV Centenário da Ilha do Governador, em 20 de fevereiro de 1965, foi inaugurado o Monumento Maracajá, “na Pedra da Onça”. Maracajá, segundo os dicionários seria um misto de Gato Grande e Onça.
Na região de Vitória, o espaço não é suficiente para a instalação de todos os Temiminós que vieram do Rio de Janeiro. Também a proximidade dos Índios com o povoado dos portugueses gera alguns problemas.
Os Índios estavam acostumados a liberdade, não aceitando o trabalho escravo.

CONFLITOS ENTRE ÍNDIOS E COLONOS
Sobre os Temiminós, a escritora Neida Lúcia Moraes informa que os mesmos habitaram a região de Vitória e a baixada de Goiabeiras.
Ao chegarem ao Espírito Santo e serem localizados inicialmente na Ilha de Vitória, os Índios Temiminós, permaneceram muito próximos à povoação portuguesa, gerando um conflito entre as raças.
Os portugueses queriam escravizar os Índios colocando-os em suas lavouras, no que Maracajaguaçu não concordou.
O conflito é citado por Maria Stella de Novaes onde destaca que a vinda de Maracajaguaçu e sua gente não foi benéfica para o Espírito Santo. Chega a afirmar que a inexperiência de Braz Lourenço o levou a trazer para o Espírito Santo os Temiminós.
Maria Stella de Novaes está equivocada.

GRANDE BENEFÍCIOS
Outros pesquisadores informam que realmente ocorreram conflitos entre Índios e Portugueses, mais os benefícios foram maiores. Maracajaguaçu amenizou os conflitos que existiam entre portugueses e Tupiniquins e muito auxiliou na defesa da Capitania.
No “Diálogo sobre a Conversão dos Gentios”, onde o padre Manoel de Nóbrega analisa os índios e índias de diversas Capitanias, consta:
“O célebre índio Principal, Vasco Fernandes Gato, do Espírito Santo, por ocasião dum conflito com os colonos, desabafou assim: Os brancos são mais para culpar do que eu, porque eu, que não sou Cristão desde menino, me apartei de muitos costumes dos meus antepassados e, depois que fui Cristão, nunca mais conheci outra mulher senão a que me deram em matrimônio, e eles fazem tudo ao revés disto; e agora, já que eles falam e procedem mal contra mim, eu tenho de ser melhor Cristão do que eles, e o pouco meu, em comparação do seu, há de ser muito, porque não me é dado tanto como eu. ”

NA REGIÃO DO RIO PIRAQUEAÇU
Tal conflito, sem graves conseqüências, provoca a imediata mudança de local e Braz Lourenço, leva então os Temiminós para o norte da Capitania, na região do rio Piraqueaçu, originando o surgimento da Aldeia de Maraguai, na região da atual Santa Cruz:
“Vimos que o Principal dos Temiminós, Maracajaguaçu - Gato Grande, que habitava o Rio de Janeiro, por inimizades e guerras constantes com seus vizinhos procurou socorrer-se com o Donatário Vasco Fernandes Coutinho, da Capitania do Espírito Santo. Foi aceito, instalando-se na Capitania. O local parece ter sido a própria Ilha de Vitória. Por aborrecimentos com os portugueses, Maracajaguaçu - batizado com o nome de Vasco Fernandes Coutinho - mudou-se (...) para além do rio Santa Maria “.
A Aldeia de Maraguai situava-se a doze léguas ao norte da sede do Governo. A palavra Maraguai é derivada de Maracajá e significa Gato. A légua é uma medida que corresponde a 6 mil e seiscentos metros. Doze léguas são 79. 200 metros, ou seja, pouco mais de 79 km da ilha de Vitória.
A Aldeia é a base inicial da localidade que posteriormente recebe o nome de Santa Cruz, que fica cerca de 79 km distante do centro de Vitória.

ALDEIAS GERABAIA E MARAGUAI
Não se deve confundir a Aldeia criada por Braz Lourenço e Maracajaguaçu com uma outra Aldeia que já existia ali próximo, que era denominada Gerabaia, conhecida, depois, como Aldeia Velha.
A Aldeia Velha, Gerabaia, foi fundada por Afonso Braz, antes da saída do referido padre do Espírito Santo, em 1553. Era de índios Tupiniquins e distava 3 quilômetros da foz do rio Piraqueaçu. Após ser invadida por formigas, a Aldeia Gerabaia deixa de existir, no período de 1595 a 1609 e seus índios recebem uma sesmaria em 1610, denominada sesmaria Japara, em Nova Almeida.
A Aldeia Gerabaia não é a mesma Aldeia Maraguai de Gato Grande.
A Aldeia de Maraguai, cuja grafia antiga era Maraguay, com Y no final, ficava na foz do rio Pirakaassu (rio do Peixe Grande), palavra cuja grafia moderna é Piraqueaçu.

TEMIMINÓS LONGE DA SEDE
Logo constata-se que os Jesuítas tinham dificuldades em visitarem a Aldeia Principal de Maracajaguaçu instalada na região da atual Santa Cruz. Os Temiminós estavam alojados distante da sede da Capitania.
O Donatário Vasco Coutinho necessita da presença dos Temiminós próximos a sede do Governo, para ajudar no combate aos inimigos que sempre estavam na baía de Vitória (franceses, holandeses, piratas, corsários) e os ferozes índios Botocudos, que estavam no Norte, (Colatina) e Tamoios, que estavam no Sul, (na faixa de terra entre Marataízes até a cidade de Campos).
Documentos comprovam que a baía de Vitória era sempre visitada por inimigos.
Historicamente há registros da visita de holandeses, franceses e piratas. Thomas Cavendish, pirata inglês, esteve na baía de Vitória em 1592, já os franceses tentaram invadir o Espírito Santo em 1558, 1561 e 1581.

COUTINHO QUER ÍNDIOS PERTO DELE
Vasco Coutinho pede aos Índios Temiminós que se transferiram para mais perto de Vitória, encarregando Braz Lourenço de colocá-los próximos da sede da Capitania.
Com auxílio e orientação de Braz Lourenço, os Temiminós de Maracajaguaçu, são fixados, nos últimos meses de 1556, na região do Mestre Álvaro e próximo ao rio Santa Maria.
Através de canoas e lanchões os colonizadores, padres e índios, usam o rio Santa Maria, como se fosse uma “estrada” em suas viagens da região norte para a sede da Capitania.
Na época, as matas existentes eram cerradas, difícil de serem atravessadas e as viagens pelos rios eram mais rápidas e práticas.
O “Santa Maria” é chamado de “rio Santa Maria da Vitória” para não ser confundido com o outro rio Santa Maria que fica na região de Colatina.

IMACULADA CONCEIÇÃO
Braz Lourenço como Jesuíta e devoto da Imaculada Conceição, inaugura uma capela na Aldeia dos Temiminós, a 8 de Dezembro de 1556, quando é rezada a primeira Missa, em presença de Maracajaguaçu e sua gente.
Foi Duns Johannes Scotus, grande teólogo do Século XIII, que encontrou a solução para a dificuldade que os religiosos possuíam para definir que Maria, embora filha de Adão e Eva, fôra preservada do pecado original. Como Maria foi destinada a ser a Mãe do filho de Deus era possível pela onipotência de Deus, que a preservasse de qualquer pecado.
Após 1300, a doutrina da Imaculada Conceição de Maria passou a ser aceita pelos teólogos e pelos fiéis, induzindo a Igreja a introduzir no Calendário Romano, já no século XV a festa da Conceição Imaculada de Maria.
Os Jesuítas eram os maiores propagadores da Imaculada Conceição de Maria, mãe de Jesus.

HOMENAGENS A NOSSA SENHORA
Também José de Anchieta foi o apóstolo e o maior defensor desta doutrina em terras Brasileiras. Os Jesuítas dedicaram inúmeras Igrejas em homenagem a Nossa Senhora da Conceição.
Em 1830 Nossa Senhora apareceu a Catarina de Labouré mandando cunhar uma medalha com a efígie da Imaculada Conceição e as palavras:
“Maria concebida sem pecado, rogai por nós”.
Quatro anos mais tarde, as aparições de Nossa Senhora de Lourdes confirmaram o dogma, quando Maria proclamou-se:
“Eu sou a Imaculada Conceição”.
No dia 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX proclamou Maria isenta do pecado original, desde o primeiro instante de sua existência no seio de sua mãe, e isso por fôrça de uma antecipada aplicação dos frutos de redenção de Cristo.
Para tentar explicar o fenômeno da Imaculada Conceição, um dogma, ou seja verdade da Igreja Católica, existe no folclore popular a seguinte trova:
“No ventre da Virgem mãe
Encarnou Divina Graça.
Entrou e saiu por ela
Como o sol pela vidraça”.
A Divina Graça citada na poesia é Jesus.
Nossa Senhora da Imaculada Conceição é a Padroeira da Serra.
Esta é a origem histórica da cidade da Serra.

FORMAÇÃO DOS MUNICÍPIOS
As origens das cidades e dos municípios podem ser de:
Fazendas, onde foi grande o desenvolvimento da agricultura ou pecuária;
Regiões onde houve explorações de riquezas minerais;
Lugares onde foram construídas rodovias e ferrovias;
Colégios ou igrejas;
Aldeias indígenas ou pequenos povoados.
Geralmente as cidades foram surgindo de aglomerações de casas, sem um plano determinado. Modernamente existem muitas cidades que são traçadas antes de sua construção, como por exemplos as cidades de Belo Horizonte e Brasília que foram planejadas antecipadamente.
O progresso de um município depende do trabalho e cooperação de seus habitantes.
A população do município pode ser constituída de antigos moradores desse lugar e de pessoas que vieram de outros municípios, estados ou países.
As pessoas que vêm de outros municípios ou de estados são chamados “migrantes”.
As pessoas que vêm de outros países são chamados imigrantes.
O município da Serra teve sua origem de uma Aldeia Indígena. Entre 1940 e 1960, a população dos migrantes se dirige para Vila Velha e Cariacica. Nesta época a expansão não atinge ainda Serra e Viana.
A população da Serra em 1960 era de 9.192 habitantes, sendo que 80 por cento era constituída de antigos moradores. A migração foi o motor do processo de metropolização da capital que se estende às cidades vizinhas.
A partir de 1970 a população da Serra aumenta assustadoramente.
O efeito total da migração sobre o crescimento do município da Serra, nos anos de 1970 a 1980, conforme dados divulgados pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente em relatório de Maio de 1992, é o seguinte:
Saldo natural dos habitantes da Serra: 5,20 por cento.
Saldo migratório direto: 84,82 por cento.
Fecundidade dos migrantes: 9,98 por cento
Efeito total das migrações na Serra 1970/1980: 79,72 por cento.
Saldo Natural são os Serranos nascido na cidade.
Saldo migratório direto são as pessoas que vieram de outras cidades e se instalaram na Serra.
Fecundidade dos migrantes são os filhos dos migrantes que nasceram na Serra.
Em 2000, a Serra atinge mais de 300 mil habitantes, num aumento fabuloso da população com o surgimento dos bairros habitacionais e o grande número de “migrantes” e agora apenas cerca de 2 por cento da população é constituída de antigos moradores, os serranos autênticos.
A migração é, portanto responsável quase que exclusivamente pela notável urbanização do município da Serra nos últimos trinta anos.
REGIÃO METROPOLITANA
A Grande Vitória localiza-se na região sudeste do Brasil e na área central do Estado do Espírito Santo.
As cidades foram crescendo, ficando muito próximas umas das outras, dando a impressão de ser uma cidade só. Essa proximidade fez com que surgisse relação de dependência entre as mesmas, surgindo o projeto de criação da Região Metropolitana da Grande Vitória, pela Lei Complementar 58, de 21 de fevereiro de 1995.
A Constituição Federal promulgada em 1988 delegou competência aos Estados para definir em lei complementar as suas regiões Metropolitanas.
DEFINIÇÃO DE ÁREA METROPOLITANA
A Constituição Estadual através do seu artigo 216 definiu Região Metropolitana como um agrupamento de municípios de grande porte e expressivas densidades demográficas e intensas relações de natureza econômica e social. A esse conjunto de cidades, próximas e dependentes, uma das outras, denomina-se Área Metropolitana.
A Grande Vitória é formada pelos Municípios de Serra, Cariacica, Viana, Vila Velha, Guarapari, Fundão e Vitória, que é a principal ilha de um arquipélago de 34 ilhas e Capital do Estado.

GRANDES METRÓPOLES
Metrópole é uma grande cidade.
Região metropolitana é uma grande região que envolve várias cidades que de tão juntas, parecem uma cidade só.
A região metropolitana da Grande Vitória procura dar destaque de metrópole à Vitória, Capital do Estado, no cenário nacional, favorecendo, por exemplo, a obtenção de financiamentos externos. Compreende os Municípios de Serra, Vitória, Vila Velha, Cariacica e Viana e parte do princípio de que existem problemas comuns entre os cinco municípios que precisam de soluções conjuntas de forma ordenada e planejada.
Os problemas não estão circunscritos aos limites territoriais dos municípios. A água que abastece os Municípios vem dos rios Santa Maria e Jucu, das regiões de Domingos Martins e Santa Maria de Jetibá. Portanto abastecimento d’água, a poluição, o lixo urbano, a saúde e o transporte coletivo são os principais temas comuns a serem debatidos pelos representantes legais dos cinco municípios.
Segundo os técnicos não há necessidade de se implantar um “super prefeito” para gerenciar a região e nem se precisa de um Conselho ou Colegiado, mas a cooperação administrativa em torno de fatos concretos num processo de amadurecimento político-administrativo de toda a sociedade, pois é necessária a garantia efetiva do planejamento e das ações do poder público, resultando na racionalização dos recursos necessários, evitando assim, desperdícios decorrentes de ações isoladas.

SERRA TEM 551,12 Km²
A extensão territorial do Município da Serra é de: 551,12 Km².
É o maior Município da Grande Vitória, ocupando 38% da área micro-regional.
Em segundo lugar está Viana, 294 Km².
Em terceiro Cariacica, 285 Km².
Quarto lugar Vila Velha, 328 Km².
Vitória é o menor Município em superfície. Segundo o IBGE Vitória possui 89 Km².
Nos anos de 2000 a 2001, através de Leis aprovadas pela Assembléia Legislativa Estadual, foram incluídos na região Metropolitana da Grande Vitória, os Municípios de Fundão e de Guarapari.
Fundão possui 269 Km² e Guarapari, 580 Km², passando a ser o maior Município da Área Metropolitana.
Com a inclusão de Guarapari e Fundão a Grande Vitória fica com um total de 2.369 Km².
NÚMEROS ANTERIORES
A área da Serra divulgada até 1999 era de 547 Km². Viana, 328 Km². Cariacica 273 Km². Vila Velha, 232 Km². Vitória, 81 Km².
A área total da Grande Vitória antes de 1999, sem os Municípios de Guarapari e Fundão, era de 1.461 Km².
Em 1999 aparelhos modernos de precisão definiram em todo o Brasil as áreas e superfícies corretas de Municípios e Estados.
Com seus 551,12 Km², a Serra é 6,1 vezes maior do que a Capital do Estado, Vitória.
A população estimada da Grande Vitória para 2010 é de 2 milhões de habitantes.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Inicialmente o açúcar era o principal produto da região da Serra, já que o primeiro impulso econômico foi à cana-de-açúcar.
Anos mais tarde o principal produto foi o café.
Depois ocorreu a plantação em larga escala do abacaxi, que elevou a Serra ao título de “terra do abacaxi”.
Hoje o setor industrial destaca-se com várias indústrias instaladas no município e vem crescendo na área industrial, principalmente a partir da implantação do CIVIT, Centro Industrial da Grande Vitória. Também o setor de turismo tem destaque contando com famosas praias.
MANIFESTAÇÕES FOLCLÓRICAS
Entre as manifestações folclóricas da Serra estão:
As Congadas; O Maculelê e a Festa de São Benedito.
Congadas - A origem das Congadas é de 1482 com o Império do Congo, na África. Um dos Impérios negros mais importantes de todos os tempos.
Com o contato com Portugal o Império foi ruindo pouco a pouco, até a decadência do Império, que se deu através de uma grande guerra contra Portugal, ficando assim o Título de Rei de Congo equivalente ao poder do povo negro que lutou contra Portugal.
No Brasil a Congada está presente desde os tempos da escravidão e as danças são reminiscências de rituais africanos de coroação, tendo também influências dos Reinados e Impérios da Europa Medieval.
No Brasil Colônia e Império a figura do Rei da Congada, não era somente uma figura ornamental. A sua função era muito séria, pois consistia em interceder junto aos outros negros como maior membro da irmandade. Essas intervenções consistiam em organizar os negros, e muitas vezes liderar rebeliões.

MACULELÊ
O maculelê é uma manifestação de forte expressão dramática, ponto alto dos folguedos populares e destina-se a participantes do sexo masculino que dançam em grupo, batendo as grimas (bastões) ao ritmo dos atabaques e ao som de cânticos em linguagem popular, ou em dialetos africanos.
O Maculelê é uma dança, um jogo de bastões. Esta "dança de porrete" tem origem Afro-indígena, pois foi trazida pelos negros da África para cá e aqui foi mesclada com a cultura dos índios que aqui já viviam.
A característica principal desta dança é a batida dos porretes uns contra os outros em determinados trechos da música que é cantada acompanhada pela forte batida do atabaque. Esta batida é feita quando, no final de cada frase da música os dois dançarinos cruzam os porretes batendo-os dois a dois.
Seu ritmo vibrante contagia a todos.
Trata-se de um ato popular de origem africana que teria florescido no século XVIII na Serra.

CAPOEIRA
Em razão da descaracterização sofrida nos dias atuais, o Maculelê está associado, em muitas regiões, aos Grupos de Capoeira e é apresentado como um dos rituais das danças de Capoeira ou aula de ginástica comum.
A Capoeira é uma dança negra com muitos rituais. Brincadeira de movimentos com malícia. Na dança negra de pés no chão a agilidade da esquiva e a esperteza da fuga. E de repente, ante os olhos surpresos do adversário, o gesto rápido. O ataque fulminante. Então, prostrado, o inimigo se dá conta de que foi vítima da mandinga, sendo enganado pela presteza e habilidade do oponente.

ATRAÇÕES TURÍSTICAS
Outra manifestação folclórica da Serra é a Festa de São Benedito da Serra sede, comemorada nos últimos dias de Dezembro, nas proximidades do Natal, com a participação de diversas bandas de Congo.
A Serra é também ponto de atração para os turistas e moradores do Espírito Santo em razão da beleza do Mestre Álvaro e das várias igrejas de arquitetura jesuítica, como São João em Carapina, Nossa Senhora da Conceição, da Serra sede e Reis Magos em Nova Almeida.
Também se destacam na Serra:
1 – Os trabalhos dos artesãos locais, com os seus balaios, esteiras de vime, entalhes de madeira e produtos em argila.
2 – A maravilhosa culinária, com a Muqueca Capixaba na Panela de Barro. (Muqueca com a letra “u”, conforme a origem africana da palavra, Mu´keka, conforme descreve o escritor Oscar Gama Filho).
3 – Os quindins, de Nova Almeida e os bolinhos de arroz da Serra sede.

POSIÇÃO GEOGRÁFICA
A posição geográfica da sede do Município da Serra está situada entre as coordenadas: 20º 07’ 43” de latitude sul; 40º 18’ 28” de longitude oeste. Estas coordenadas foram obtidas a 305 metros a Nordeste da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na sede do Município.
A sede da Serra é a cidade mais alta de região da Grande Vitória, com a média de 40 a 70 metros de altitude, sendo a altitude de 40 metros medida no centro, próximo a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
A sede da Serra está a 12 km da costa e possui 151 km2 existindo nas proximidades vários bairros da periferia que ampliam a área da sede municipal.
Da Igreja Nossa Senhora da Conceição, na Serra, até a Praça Oito de Setembro, no centro de Vitória são 27 quilômetros.

Origem da Trova

ORIGEM DA TROVA



------- CLÉRIO JOSÉ BORGES

Da Academia de Letras e Artes da Serra

Do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo

Da Academia de Letras Humberto de Campos, de Vila Velha

Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras.

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A origem da Poesia Trovadoresca Medieval perde-se no tempo, contudo foi a criação literária que mais destaque alcançou entre as formas poéticas medievais, originárias de Provença, Sul da França.

Expandiu-se no século XII por grande parte da Europa e floresceu por quase duzentos anos em Portugal, França e Alemanha.

Os primeiros Trovadores Modernos a fazerem Trovas sistematicamente para publicação surgiram no século passado em Espanha e Portugal, na esteira dos folcloristas que as recolhiam em meio ao povo.

A Trova que passou a pontilhar na Literatura da Espanha e Portugal, propagou-se pelos países surgidos das conquistas dessas potências marítimas, chegando, pois à América Latina e ao Brasil.

Segundo Elmo Elton, eleito em 1980, Rei dos Trovadores Capixabas não é fácil escrever Trovas, “visto que apenas os inclinados para o exercício desse gênero poético sabem como bem realizá-las dentro das normas exigidas à sua correta feitura, já que, caso contrário, tão somente conseguem o que é comum, enfileirar quatro versos sem aquelas características essenciais que conseguem consagrar uma Trova.”

Vale aqui lembrar a Trova do Rei dos Trovadores Brasileiros, Adelmar Tavares, que era Acadêmico da Academia Brasileira de Letras:

Ó linda trova perfeita,

que nos dá tanto prazer,

tão fácil, - depois de feita,

tão difícil de fazer.

Em 1889, no dia 20 de janeiro, o jornal “A Província do Espírito Santo” publicava uma notícia de que uma senhora da Sociedade Vitoriense enviara para a redação daquele jornal, “magnífica coletânea de versos anônimos, frutos da inspiração alegre e travessa da musa popular.”

Seguem-se Trovas na primeira página daquele jornal. Em edições seguintes são transcritas mais Trovas.

O Jornal de 20 de Janeiro de 1889 traz seis Trovas.

Os raios do céu me partam

as estrelas me façam em pó;

a luz do dia me falte

se eu não amo a ti só.



Quem quer bem às escondidas

grandes tormentos padece,

passando por ser bemzinho

fazendo que não o conhece.



Ainda depois de morta,

debaixo do frio chão,

acharás teu nome escrito

no meu terno coração.



No Domingo seguinte, 27 de Janeiro de 1889, o Jornal “A Província do Espírito Santo” de número 1857, trazia na primeira página com o mesmo título: “Musa Popular - Cancioneiro Espírito - Santense”, mais de dez Trovas sem a indicação da autoria, isto é, de quem as fez. A primeira delas é a seguinte:

Você diz que eu sou sua

eu sou sua, mas não sei.

O mundo dá muitas voltas

eu não sei de quem serei.



Nova publicação só ocorre no domingo 10 de Fevereiro de 1889. O Jornal é o de número 1868 e lá estão mais 11 Trovas. A primeira delas é a seguinte:

As estrelas miudinhas

fazem o céu muito composto

nunca pude, meu benzinho

falar contigo a meu gosto.



Nos números seguintes, sempre na página literária do Domingo, localizada na capa, isto é, na primeira página do Jornal, são publicadas mais Trovas.

A tal senhora da Sociedade de Vitória, que mandara para a redação do Jornal a “magnífica coletânea de versos anônimos.” acabou não sendo identificada pelo Jornal.



O primeiro coletor de Trovas Populares em terras capixabas, com registros nos anais da história, foi o primeiro Governador Republicano, Afonso Cláudio de Freitas Rosa, que publicou no Rio de Janeiro, em 1921, o livro “Trovas e Cantares Capixabas”, no qual reuniu 21 Trovas. Eis duas delas:



Mandei fazer um barquinho,

da casca do camarão,

o barco saiu pequeno,

só coube meu coração.



Você diz que mal de amor,

não mata quem está alerta;

Pois eu ouvi de um doutor,

Que amar é ter cova aberta.



De 1923 a 1956 a Trova Literária, feita por poetas conhecidos, passa a ser bastante divulgada pela Revista “Vida Capichaba”, que publicava trabalhos de autores Espírito-Santenses, entre eles, Teixeira Leite:

Em meus amores diviso

um de mais sinceridade:

O que nasceu de um sorriso

e vive de uma saudade.



Em 1949, Guilherme Santos Neves publica o livro “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares”, onde reúne mil Trovas: “Colhidas em várias fontes aqui e ali, em Terras Capixabas, visando principalmente evitar que elas extraviem e se percam como tantas bonitas tradições do nosso povo.”

Eis três Trovas coletadas por Guilherme Santos Neves mostrando o gosto dos Capixabas em manifestar suas emoções e anseios através da Trova:

No caminho de Vitória

tem subida e tem descida,

também tem um moreninho,

perdição de minha vida.



Quem me dera estar agora

onde está meu pensamento:

Na cidade de Vitória,

na ladeira do Convento.



Minha mãe não quer que coma

muquequinha de siri.

O meu pai não quer que eu case

com rapaz de Itaquari.





(Trecho do Livro "Origem Capixaba da Trova", publicado por Clério José Borges em Outubro de 2007).